Confederação acusa a novela O Tempo Não Para de desqualificar o direito de greve de professores e de favorecer a terceirização da categoria
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) divulgou na segunda-feira 3 uma moção de repúdio à Rede Globo de Televisão devido a uma cena veiculada pela novela O Tempo Não Para, exibida às 19h.
No capítulo levado ao ar no dia 1 de setembro, a personagem Marocas, interpretada pela atriz Juliana Paiva, visita uma escola em companhia de Miss Celine, interpretada pela atriz Maria Eduarda de Carvalho, em busca de vagas para suas irmãs. Miss Celine tem a intenção de arrumar um emprego na instituição.
O pedido de vaga é negado pela diretora que afirma que a unidade está lotada. Quanto à oportunidade de emprego, a gestora explica que a escola municipal só contrata professoresconcursados, norma desconhecida pelas personagens. [a trama conta a história de uma família que congela em 1886 e desperta nos dias atuais].
Ao explicar que, para lecionar, os professores devem prestar concurso e, se aprovados, são encaminhados para unidades da rede, a diretora é questionada por Miss Celine. “Eu não entendo, para que tantas complicações? Por que simplesmente não avaliam a competência dos candidatos, a expertise? Seria muito mais inteligente, mais ágil e todos ganhariam com isso”, coloca a personagem.
A cena continua com uma conversa entre Marocas e Miss Celine que volta a dizer que não entende o porquê de tanta burocracia para contratar um professor. “Não seria muito mais simples escolher entre os candidatos o mais capaz?”, ao que responde Marocas, “é de fato muito curioso…mil e uma exigências para nada. A escola que visitamos estava caindo aos pedaços, não tinha material para os estudantes e os professores não estavam lá porque recebem pouco. Eles são funcionários públicos, recebem através de impostos pagos pelo povo, que não é retribuído na forma de uma educação adequada”. [veja a cena completa]
Para a CNTE, o diálogo sugere explicitamente que a culpa e a responsabilidade da atual situação da educação pública brasileira é do professor, ferindo tanto o seu direito de greve como a forma de contratação por meio de concursos públicos.
“Em tempos de uma democracia golpeada, que contou com o apoio decisivo desse grupo de comunicações, o diálogo entre as personagens da novela flerta com as possibilidades de contratação de servidores públicos sem a necessidade de concurso público, muito em decorrência da aprovação recente da terceirização ilimitada e da reforma trabalhista. Em especial para a categoria do magistério, e em conjunto com a alteração proposta nesses dois normativos, a Reforma do Ensino Médio propõe a contratação de professores por “notório saber” para o ensino profissionalizante.
A ideia sempre presente de conferir às nossas escolas a gestão por meio de organizações sociais (OSs) reflete o diálogo travado na teledramaturgia global. É evidente que a cena se propôs a ser um instrumento dessa disputa de ideias que se dá no campo dos projetos políticos e somente nesse campo deve ficar”, afirma a Confederação em nota.
O texto ainda afirma que a Globo defende um modelo de educação que está se pavimentando no Brasil. “Esse poderoso grupo econômico aguarda ansiosamente a aprovação da nova Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio para que, assim, possa ser ofertado os seus telecursos pelo Brasil afora, atendendo aos preceitos do que se pretende impor no Brasil nos tempos de hoje. Para isso, eles precisam destruir o atual modelo público, tratando a educação como mercadoria. Por isso, a cena da novela não foi despropositada e tampouco desinteressada”.
A comunicação da emissora se pronunciou sobre o caso por meio de nota. Confira na íntegra:
A Globo tem um compromisso histórico com a Educação. Através de campanhas na programação, debates, reportagens nos telejornais e cenas de temática social inseridas nas tramas de suas novelas, a empresa busca mobilizar a sociedade em torno do tema. A valorização do professor e o incentivo à leitura são algumas das questões presentes nas iniciativas adotadas pela empresa, como a parceria com o Prêmio ‘Educador Nota 10’, a plataforma ‘Assista a Esse Livro’ e em campanhas como a do “público da escola pública”, amplamente veiculada este ano e já entrando em uma terceira fase que mostrará depoimentos sobre pessoas que foram alunos de escolas públicas e valorizam isso na sua trajetória acadêmica e profissional.
Desta forma, é importante registrar que o ‘O Tempo Não Para’ acompanha a história de uma família congelada, em 1886, que desperta nos dias de hoje e precisa lidar com os choques temporais. Ao longo dos capítulos, várias dessas situações são mostradas. Costumes, questões éticas, tecnologia…quase tudo surpreende os recém-chegados ao século XXI. A cena em questão trata de um desses choques. Marocas (Juliana Paiva) e Miss Celine (Maria Eduarda de Carvalho), primeiro, estranham o uniforme das alunas, que usam calças, o que era improvável no século XIX; em seguida, elas ficam sabendo que os professores estão em greve e defendem que os profissionais deveriam ser mais bem recompensados. Além disso, uma funcionária da escola reforça o rigor no processo seletivo para os professores.
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